24 outubro 2008

Aborto

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Falar sobre abortos espontâneos é tão pesado e patético e indesejado e repleto de significado sobre idade e utilidade. A sensação de sofrer três abortos em um ano é a de que eu devo ter feito algo errado, quando a realidade é que a maioria dos abortos acontece por motivos cromossômicos fora de nosso controle.

Ainda assim, uma mulher que sofre um aborto espontâneo provavelmente se perguntará por quê. "Deus não deve querer que eu tenha um filho," ela pode pensar, ou "Estou velha demais." Há momentos em que você sente que o aborto e as calamidades do mundo são seus próprios feitos e que você deveria, de alguma forma, saber melhor.

Talvez não falemos de nossos abortos porque não queremos as mulheres com filhos nos olhando com pena, ou adolescentes com seu jeito imortal pensando, "Isso nunca acontecerá comigo." Não queremos que famílias felizes sussurrem, "Graças a Deus não é com a gente." Não queremos imaginar que os homens possam estar pensando, "Se elas não podem ter filhos, por que estão aqui?"

Entretanto, não sei o que você deve dizer a uma mulher que teve abortos espontâneos. Ao mesmo tempo em que pode ser emocionante ouvir histórias de outras mulheres, pode também ser irritante: faz com que nosso momento de extraordinária tristeza se torne comum e dentro da média. Por que eu iria querer ouvir sobre seu aborto quando estou deitada no chão tentando erguer 250 quilos de fracasso, desilusão e hormônios despedaçados em meu peito?

O que posso dizer é: quero que as pessoas saibam. Não quero que seja um segredo ou uma sombra, ou algo carregado individualmente. Quero que as pessoas saibam que eu passei por algo, que estou cansada mas otimista, que fui derrubada mas não me ajude, pois posso levantar sozinha.
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fonte: http://cienciaesaude.uol.com.br/ultnot/2008/10/22/ult4477u1065.jhtm



Já faz mais de um ano e ainda me pergunto o por quê?...

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