Só para não passar em branco. Na última terça-feira, dia 10, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, afirmou, em entrevista coletiva, que o Sistema Único de Saúde (SUS) passará a oferecer gratuitamente, em cerca de seis meses, tratamento de reprodução assistida a casais que não conseguem ter filhos.
A frase do ministro: "O casal que não consegue ter filhos e quer fazer uma inseminação artificial tem que pagar hoje um tratamento caríssimo, que custa entre R$ 10 mil e R$ 20 mil. O SUS também passará a oferecer esse atendimento". Alguém aqui na redação gritou: ‘Cláudia, você viu que o SUS vai oferecer tratamento de reprodução assistida? Minha resposta foi imediata: ‘Agora, só acredito vendo. Não escrevo mais uma linha anunciando uma promessa que nunca sai do papel!’.
Caro ministro, meu ceticismo tem razão de existir. No dia 6 de julho de 2005, o seu antecessor, Humberto Costa, anunciou exatamente a mesma coisa: que até dezembro daquele ano os casais poderiam fazer o tratamento gratuito pelo SUS. O que aconteceu desde então? Exatamente nada. Os casais com dificuldades de gravidez só vêm encontrando no SUS portas fechadas e desamparo. Nos poucos lugares públicos onde há oferta do atendimento, as filas são monstruosas. Acompanho a luta de uma amiga que está há quatro anos na fila do HC. Na última consulta, marcaram um retorno para... o ano que vem.
O mais triste é saber que o mesmo desamparo existe no sistema suplementar de saúde. Faz algum sentido pagarmos um absurdo de plano de saúde e não haver nenhuma cobertura em relação aos tratamentos de reprodução assistida? Faz algum sentido muitas mulheres mentirem nos laboratórios de análises clínicas, quando fazem exames vinculados ao tratamento, porque alguns planos glosam os procedimentos quando se trata de reprodução assistida? E sabem por que? Receio de arcar com os custos da gravidez múltipla (UTI neonatal etc etc).
Enfim, caro ministro, quero muito acreditar que, agora, a promessa de tratamento de reprodução assistida no SUS é para valer. Sei que tem muita gente que vai dizer: um país pobre como o nosso há outras prioridades na área da saúde. Concordo que o assunto é complexo e que o sistema não é uma torneira aberta. Mas entendo que é possível equacionar essas questões todas e fazer valer a lei dos direitos reprodutivos de forma integral: oferecer recursos aos casais que desejam e aos que não desejam ter filhos.
Hoje, existe uma multidão de homens e mulheres brasileiros que amargam a dor da infertilidade, sem condições de arcar com os caríssimos tratamentos. E se enchem de esperanças cada vez que um ministro de Estado declara que, finalmente, o sistema de saúde vai acolhê-los. Então, por favor, ministro, lembre-se deles cada vez que tocar neste assunto. A infertilidade é uma ferida aberta que, muitas vezes, parece invisível à sociedade porque as pessoas têm dificuldade de expô-la. Ainda não conseguimos nos organizar o suficiente para, a exemplo das nossas amigas portuguesas, fazermos uma marcha e sensibilizar a população para esse tema.
Lá em Portugal, no último dia 1º de junho (data em que se comemora no país o Dia das Crianças) centenas de pessoas saíram às ruas com esse fim. "Queremos dar a cara e dizer a quem pode ajudar _o Ministério da Saúde_ que existimos, que estamos aqui e precisamos de ajuda", disse à epoca Filomena Gonçalves, da Associação Portuguesa de (In)Fertilidade. Fazemos nossas as tuas palavras, Filomena.
fonte: http://claudiacollucci.blog.uol.com.br/
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