Abandono X crueldade

Estive visitando o blog: http://jrbalestra.blogspot.com/ e não pude deixar reproduzir:
"Ontem estive em Londrina, no escritório de um colega advogado. Em certo momento, saí pra calçada, e observei um casal, de bermudas, camisetas chiques, tênis novinhos, que passeava pela calçada duma quadra sem casas do outro lado da movimentada avenida, com uma mureta baixa no terreno, do tipo próprio pra evitar que a prefeitura multe o proprietário por falta de roçadas... esses truques bestas do homem capitalista.Atrás do casal vinha um cãozinho. Como sou um apaixonado por todos os cães - que o "digam" meus rottweilers Billy e Bob -, me comovi com a bonita cena: o melhor amigo do homem ao seu lado. Fiel ali atrás. Notei que o cãozinho caminhava depressinha, mas mancava um pouco. Mas ia indo. De repente, o homem se abaixou pra pegar o cãozinho, e este se curvou no chão, submisso, esperando ser carinhosamente colhido por aqueles braços fortes.O homem o pegou, andou alguns passos com ele nas mãos, e depois, pasmem, o ABANDONOU atrás da mureta, saindo correndo pra despistar o pobre animal. Pra minha sorte (ou covardia, sei lá) não vi o cãozinho sair lá no final da mureta. Mas também vi que ele não veio pra pista movimentada da avenida. Mil coisas se passaram por minha cabeça, advogado ou não, quanto àquela atitude desumana do cúmplice casal. Lembrei-me de Bob & Billy em casa, pêlos brilhantes, lindos, satisfeitos.O crime do abandono de cães na cidade não o é apenas na acepção jurídica da palavra, mas, sobretudo porque o bicho ficará sem nenhuma chance de sobrevivência. Vejam. As lixeiras e os containers de lixo urbanos são a certeza pra eles de que não conseguirão chegar a um alimento, mesmo que sem qualidade, estragado ou não. É a certeza da pior forma de morte que a sociedade humna lhes impõe: pela fome e a sede. Perambulando desesperados, tentam atravessar ruas e avenidas, e aí...Maldita a crueldade humana!! E aí me lembrei da oração do cão abandonado que ora reproduzo. Não é nova, mas é simplesmente verdadeira:
"Oração de um cão abandonado"
Sabe Senhor, só agora eu, entendi porque meu dono me trouxe à praça naquele, dia. Não foi para passear como eu pensei, ele não tinha esse hábito, mas mesmo assim fiquei contente.Logo que chegamos, ele me deu as costas e apressado entrou no carro, sem ao menos me dizer adeus. Olhei para os lados, sem saber o que fazer.Tentei segui-lo e quase fui atropelado. O que eu fiz de tão mau? À noite, quando ele chegava, eu latia, mas é porque havia estranhos no portão e não podia deixá-los entrar sem a permissão do meu dono. Quem sabe foi minha dona que mandou, talvez eu lhe desse trabalho. Mas as crianças, elas me adoravam. Como sinto saudades! Puxavam-me a cauda e eu virava uma fera, mas logo passava. Talvez eles nem saibam, devem ter dito que eu fugi.Estou faminto, só bebo água suja, e todos me desprezam. Estou magro, feio e doente. Sabe Senhor, neste cantinho que arrumei para passar a noite, sinto muito frio, o chão está úmido e frio, e quase não tenho pêlos. Creio que vou me encontrar contigo ai no céu, meu sofrimento vai terminar e mesmo em espírito, sei que vou ter a Tua permissão para rever as crianças.Peço-Te então, não mais por mim, mas pelos meus irmãos abandonados.Ajuda-os a encontrar um lar onde possam viver com um pouco de dignidade.Ameniza-lhes a sede com tua bondade. Elimina o sofrimento de suas chagas, ocasionadas pela ignorância e a insensibilidade do coração do homem. Tira o medo e a dor dos que forem sacrificados em nome de estratégias sanitárias, posturas políticas, científicas, esportivas e outras.Recebe, ó Pai, nesta noite gélida, a minha alma, pois não será mais meu sofrimento, mas dos que ficarem, por eles é que te peço.Obrigado meu Deus, pelos momentos de felicidade que eu tive!”