24 maio 2007

Aborto

Recebi esta mensagem por email e ela expressa tudo que senti nos últimos dias...

"Neste momento em que a dor parece dilacerar a alma, gostaria de ter a serenidade dos budistas para apenas agradecer os dias de plenitude que vivi, desde o momento que soube que estava grávida. Os seios inchados, os enjôos matinais, o repentino aumento de apetite. Cada um desses sinais foram intensamente comemorados e reafirmavam o que o primeiro ultra-som já havia constatado. Sim, havia uma gestação em andamento. O saco gestacional, a vesícula vitelínea, e, mais tarde, ele, o embriãozinho de 2 mm.

A partir daí, aquele minúsculo embrião já era o nosso querido e sonhado filho. Já ocupava o seu espaço nossas vidas. Não cansávamos de assistir à fita de vídeo com a gravação do ultra-som e de ficar fantasiando como seria o bebê. Herdaria os olhos do pai, a boca da mãe? Nas bancas de jornais, o foco de interesse passou a ser tudo o que se referia à gravidez e ao bebê.

Dane-se as denúncias de corrupção, os crimes e as gafes do nosso presidente. O que interessava saber mesmo era o melhor custo X benefício do carrinho do bebê. Ou a resposta para a eterna dúvida: após a licença-maternidade, o que é preferível: deixar o bebê com uma babá ou colocá-lo no berçário próximo ao seu trabalho?
Neste momento, de nada vale os conhecimentos teóricos sobre reprodução. De nada vale saber das cruéis estatísticas que mostram que 20% das gravidezes são abortadas até 12 semanas de gestação.

Essa informação até passa pela cabeça mas você se esforça para ignorá-la, como se, pensando nela, atraísse coisas ruins. Tudo caminhava como um sonho bom até o próximo ultra-som. A grande expectativa era ouvir os batimentos cardíacos do nosso embriãozinho. Fita de vídeo a postos, o marido segurando firmemente a minha mão e nada. Nenhum som. Aumenta o volume do doppler, um segundo médico é chamado, procura, procura, procura e nada. Silêncio absoluto. O coração dispara, a mão sua frio e as lágrimas rolam incessantemente.

No dia seguinte, uma curetagem pôs fim ao sonho. E o que sobrou foi um imenso vazio. Um insuportável luto. Não faltam consolos do tipo: outras oportunidades virão, isso já aconteceu comigo e engravidei dois meses depois, etc, etc. Tudo isso é sabido, mas nada amortiza a dor. O tempo, sei bem, é o melhor remédio para cicatrizar essa ferida. E tenho certeza que cicatrizará. Assim como tenho fé que um novo bebê virá no momento certo. Não para preencher o vazio deste que se foi. Virá para ocupar o seu verdadeiro lugar, virá para gozar deste nosso inesgotável amor que já lhe pertence.

Neste momento em que o mundo parece perder o colorido e se transforma em uma imensa tela PB, agradeço sim ao Universo a breve oportunidade de me fazer sentir mãe. Agradeço sim cada sintoma, cada transformação pelo qual passou o meu corpo neste período. Agradeço, do fundo da minha alma, o fato de ter vivido essa alegria e, depois, a dor da perda ao lado do homem da minha vida. Mas não deixo de sofrer e de lamentar o fato de ainda não ter sido desta vez.. "

2 comentários:

Anônimo disse...

Força Mulher.
Ainda virá!!! E será intenso, pleno e repleto de alegrias.
Um abraço bem forte.

Esileda disse...

Brigadinha