31 outubro 2006

duas facetas...

Estive navegando no blog da Claudia Collucci (http://claudiacollucci.blog.uol.com.br/) e encontrei este post que diz tudo o que ando sentindo nessa semana...vou partilhar com as mulheres que como eu, são "tentantes".

As facetas que nos habitam

Um dia sem ver o sangue da menstruação é um dia de sonhos. Em dois, três, as sensações vão se multiplicando e tudo que já disseram sobre os sintomas da gravidez começamos a sentir. Os seios estão inchados, a barriga meio dura e até enjôos começam a aparecer. E damos asas à fantasia e à imaginação. Como vamos dar a notícia ao maridão? Imprimir o resultado do exame, enrolar feito um canudinho e entregá-lo dentro de um sapatinho de tricô? Ou será melhor convidá-lo para um jantar romântico e surpreendê-lo com a notícia sob a luz das velas?

Isso tudo sem ao menos fazer um teste de gravidez da farmácia. Pensamos que talvez o melhor seja esperar mais uns dias, uns dez quem sabe. Assim, não haverá erro. Aí começam alguns sinais de que a mentruação está por perto. Uma dorzinha na lombar, uma pontadinha no baixo ventre. "Xô maus pensamentos! É só prisão de ventre!", falamos a nós mesmas, incrédulas com os fatos que levam a crer uma improbabilidade de gravidez. Por mais concretos que eles sejam, como, por exemplo, só ter transado uma única vez no mês, fora do período fértil.

Nesses momentos de fantasia, pouco nos importam os fatos. A gente se esforça para não temer a decepção que nos empreita. Apesar de conhecê-la tão bem. A gente tenta ignorá-la tal como a criança que sabe que não vai ganhar o tão esperado presente de Natal. E mesmo quando nos deparamos com o sangue na calcinha ou no fundo do vaso sanitário, engolimos as salgadas lágrimas da frustração. Olhando o espelho à nossa frente, a gente diz: não vou me enterrar na tristeza. Estou ótima, tenho saúde, tenho um marido maravilhoso, uma família fantástica, uma profissão que me realiza, as coisas estão fervilhando lá fora e vou aproveitar o dia lindo que está fazendo (pode até estar nublado e chovendo...) .

Mas a gente também pode olhar no espelho e o nosso mundo entrar em colapso. E aquele sentimento maravilhoso de plenitude pelo atraso menstrual ser tomado um vazio devastador. E a gente se detesta por ter embarcado novamente naquela fantasia que já nos fez sofrer tantas outras vezes. Sentimo-nos umas verdadeiras imbecis. O mundo fica preto e branco. A vontade é de desaparecer dentro de um buraco. De não ver ninguém, de não falar com ninguém. De sermos consumidas pela tristeza ou pela raiva .

Sim, quando sofremos a dificuldade de gravidez, essas duas personalidades habitam nosso ser. Ora somos uma, ora somos a outra. O importante é não escondermos o sol com a peneira e nos respeitarmos. Se a vontade é de chorar, pois que choremos muito. Se a vontade é de afogar a tristeza num porre, que enchemos a cara (eventualmente, não faz mal a ninguém). Se a vontade é de esmurrar a porta, que esmurremos. Se a vontade é de gritar ao mundo que sim, estamos muito tristes pela gravidez que não vem, que escrevemos isso com letras garrafais nos céus.

Tudo isso é permitido. Só não é permitido fingir para nós mesmas que tudo está bem, quando na realidade está tudo péssimo. Temos que aprender a zerar, a esgotar o que não nos faz bem. O coração tem que estar livre das mágoas e das tristezas para receber o imenso amor incondicional que é a maternidade.






Nenhum comentário: